Igrejas também se engajam na tarefa de conscientizar os cristãos sobre os problemas ambientais
A degradação ambiental do planeta tem atingido níveis alarmantes: queimadas nas florestas, desmatamento, emissão excessiva de gases poluentes, esgoto sem tratamento derramado nos rios e nas praias, lixo e resíduos químicos e sólidos descartados sem qualquer tipo de cuidado. Segundo o último relatório de Estatísticas Mundiais de Saúde, da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado em maio, cerca de 99% da população mundial respira níveis insalubres de material particulado fino [ou MP2.5, presente em alguns aerossóis, de tamanho microscópico, que, quando liberado no ar, entra facilmente nas vias respiratórias, causando problemas como asma, pneumonia e câncer de pulmão] e dióxido de nitrogênio, um poluente produzido principalmente pela queima de combustíveis fósseis. De acordo com o documento da OMS, os habitantes de países de baixa e média renda são os mais expostos à destruição do meio ambiente.
Outro estudo, realizado pela Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA, a sigla em inglês), organização sem fins lucrativos, prevê que a geração mundial de lixo pode chegar a 3,4 bilhões de toneladas por ano até 2050. Em 2016, foram 2 bilhões de toneladas. Diante de níveis tão apavorantes de degradação ambiental, especialistas afirmam que os governos precisam tomar medidas urgentes, e em larga escala, para minimizar os efeitos danosos da ação humana sobre o meio ambiente.
Entretanto, os estudiosos destacam que pequenas iniciativas do cidadão comum podem ter impactos significativos na qualidade de vida no planeta. Porém, argumentam eles, para que isso aconteça, é necessário um trabalho de conscientização – algo que muitas igrejas evangélicas têm realizado, como a Comunidade Batista Vida, no bairro Distrito Industrial, em Rio Branco (AC). Localizada no coração da Amazônia, essa comunidade cristã lançou, há mais de um ano, o programa Rede de Ações Ambientais. Desde então, não há mais copos descartáveis na congregação: cada membro leva seu copo, sua caneca ou sua garrafa de casa para beber água. “Fazemos também um planejamento semestral das ações que iremos desenvolver, de modo que todos possam participar”, informa o geógrafo Billyshelby Fequis, mestre em Geografia e líder do projeto.
Segundo ele, a igreja também organiza o Green Day, um culto com abordagem ambiental e fundamentado na Bíblia, e, nos encontros dos cristãos empreendedores, o tema sustentabilidade é sempre abordado. “Falamos como eles podem ajudar na preservação ambiental por meio de ações nos negócios que desenvolvem”, afirma o líder. Outra iniciativa da Comunidade Batista Vida é a entrega de uma muda de árvore para cada novo convertido, a fim de que ela seja plantada na cidade. “Já foram entregues 283 mudas até o momento. Nós os incentivamos não somente a plantar, mas também a cuidar e acompanhar o seu desenvolvimento.”
Além dessas ações, a congregação desenvolve, em um terreno próprio, um sistema agroflorestal que, futuramente, terá árvores frutíferas e florestais, horta e parquinho para as crianças. “Será um local de convivência para os membros e também para a população do entorno”, afirma o especialista, sinalizando que a igreja deseja construir um ecoponto para coletar lixo reciclável dos membros e da vizinhança.
Algumas comunidades eclesiásticas são tão engajadas na causa ambiental que até mesmo a construção do templo se deu com o aproveitamento de materiais naturais. É o caso da Igreja da Ilha, em Batayporã (MS), cuja estrutura é feita de bambu, e a geração de energia elétrica se dá por meio de placas coletoras de radiação solar. Além disso, todos os rejeitos produzidos pela congregação são separados corretamente para o devido descarte. “Fazemos um trabalho de conscientização ambiental sempre alinhado com a Palavra de Deus”, afirma o missionário Bruno Sales Landim, líder da igreja. Ele revela que pretende iniciar um treinamento, com foco no meio ambiente, para obreiros que queiram atuar na cidade, pregando o Evangelho e falando da necessidade de preservar o ecossistema da região, conhecida como Vale das Águas. “Falaremos, por exemplo, do uso de materiais alternativos, de tecnologia social e de ecoteologia.”
Preservação necessária – No Amazonas, a Primeira Igreja Batista de Parintins realiza, com frequência, uma série de atividades para mobilizar e conscientizar os membros quanto à responsabilidade ambiental. A limpeza da orla da cidade – situada no extremo leste do estado, às margens do rio Amazonas, distante 372km da capital, Manaus – foi uma dessas ações. “Todos colaboraram”, afirma o missionário Phelipe Marques Reis, membro do Movimento Renovar Nosso Mundo, um coletivo global de cristãos que busca engajar as igrejas locais no combate à degradação do meio ambiente.
Sob a mesma perspectiva de conscientização, as crianças são ensinadas, nas aulas da escola bíblica, sobre a importância de amar a Deus e cuidar da Sua criação. “É importante que os pequenos tenham esse aprendizado. Então, procuramos realizar iniciativas voltadas para eles”, informa Reis, recordando que a igreja já promoveu também a Primeira Jornada Mordomia da Criação. Com foco na juventude, a ação orientou rapazes e moças quanto às práticas de preservação ambiental e os ensinamentos da Palavra de Deus a respeito do assunto.
Segundo o missionário, a comunidade cristã está desenvolvendo o espaço Bom Samaritano, voltado para o plantio de mudas de espécies nativas da região.
A fim de levantar recursos para o projeto, uma horta foi criada. “O objetivo é reinvestir nesse trabalho”, explica ele, esclarecendo que a liderança da igreja vem pedindo aos membros da congregação sugestões para a ampliação das iniciativas de preservação ambiental.
A preocupação da igreja de Parintins é compartilhada pelo movimento Nós na Criação, o qual busca ensinar, apoiar e impulsionar igrejas evangélicas brasileiras acerca da necessidade de se fazer algo pelo meio ambiente. “As questões ambientais precisam ser tratadas com o mesmo protagonismo das outras causas defendidas pelas comunidades de fé”, enfatiza Dálethe Melissa Bezerra Florêncio, secretária-executiva da organização. De acordo com ela, é importante fundar um ministério voltado para a questão ambiental em cada igreja, da mesma maneira que essas congregações criam departamentos de louvor, ensino, evangelismo, ação social e missões.
Ela lembra que o homem é parte da criação e precisa cuidar do planeta em que vive. “Deus criou primeiro todos os outros seres para depois formar o ser humano. Ele vivia em harmonia com a natureza”, recorda-se a secretária, assinalando que existe uma interdependência entre o ser humano e o meio ambiente. “É uma troca. Enquanto o homem cuida, a natureza oferece os recursos naturais”, explica Dálethe, destacando que não podemos pensar somente nos recursos naturais que nos interessam e descartar o restante. “Tudo o que foi criado por Deus tem um propósito que precisa ser seguido”, adverte.