A Bíblia continua sendo o livro mais lido e mais marcante para os brasileiros, de acordo com a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, divulgada em 2024 pelo Instituto Pró-Livro, em parceria com o IPEC (Instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica).
Segundo o levantamento, 38% dos entrevistados apontaram a Bíblia como sua obra favorita, mantendo a liderança entre os leitores do país. Em 2019, o índice foi semelhante, com 35% das menções.
Na edição anterior da pesquisa, gêneros como contos, romances e livros religiosos também figuraram entre os preferidos, com 22% de citações. No entanto, em 2024, apesar da estabilidade da Bíblia no topo, houve retração no hábito de leitura de forma geral: mais da metade da população — 53% — afirmou não se considerar leitora. O índice atravessa faixas etárias, classes sociais e níveis de escolaridade.
Alerta entre cristãos: leitura da Bíblia também diminui
Em paralelo ao cenário brasileiro, líderes religiosos em outros países também observam queda no engajamento com as Escrituras. O teólogo norte-americano Jason Smedley destacou a situação em igrejas dos Estados Unidos:
“Apenas 11% dos frequentadores afirmam ter lido a Bíblia por completo”, revelou em entrevista à revista Comunhão.
Segundo ele, essa estatística revela um problema mais profundo:
“A maioria das pessoas que são alimentadas com uma dieta constante de pregação moderna acabará tendo uma visão negativa do que a Bíblia realmente diz sobre Deus.”
Smedley alertou que a superficialidade no estudo bíblico abre portas para interpretações distorcidas:
“O conhecimento bíblico não é mais prioridade para muitos cristãos. Isso enfraquece a fé e abre espaço para interpretações equivocadas do texto sagrado.”
Manipulação da Palavra e o risco doutrinário
O teólogo comparou o momento atual ao episódio da queda do homem, descrito em Gênesis 3. Para ele, a distorção das palavras de Deus é um padrão recorrente na história da fé:
“Ao citar erroneamente o que Deus disse intencionalmente, [satanás] enganou Eva para esclarecer o comando, dando a ele uma chance de manipulá-la para comer da árvore.”
Esse mesmo padrão, segundo Smedley, é perceptível em pregações que moldam Deus conforme expectativas humanas:
“O Deus das Escrituras, porém, é ao mesmo tempo amoroso e justo, e não pode ser moldado para atender interesses humanos.”
Chamado à fidelidade bíblica
Smedley defende que o afastamento da sã doutrina fragiliza a identidade cristã:
“Sem raízes firmes nas Escrituras, muitos fiéis tendem a adaptar suas crenças ao gosto da audiência.”
A advertência é embasada na exortação de Paulo em 2 Timóteo 4:3-4:
“Porque virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências;
e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.”
Reverência à Palavra: mais que leitura, um chamado
Como resposta à crise, o teólogo propõe um retorno ao temor e à reverência diante do texto sagrado:
“Precisamos abordar o texto com consciência de sua sacralidade e ter um santo temor de ofender a Deus com nossas homilias desleixadas e análises imprecisas.”
Para ele, a pregação deve estar ancorada na fidelidade, não na criatividade:
“Pregar não é um ato de criatividade livre, mas um compromisso com a verdade divina.”
Em suas palavras finais, Smedley reforçou o papel vital das Escrituras para a saúde espiritual da Igreja:
“Conhecer profundamente a Palavra de Deus não é opcional — é essencial.”
Fundamento da fé cristã
A pesquisa brasileira e os alertas de teólogos como Smedley reforçam a urgência de manter viva a leitura da Bíblia — não apenas como tradição religiosa ou prática cultural, mas como fundamento espiritual da fé cristã. Como declarou o salmista:
“Escondi a tua palavra no meu coração, para não pecar contra ti.” (Salmos 119:11)